O EXMO. SR. MINISTRO WILLIAM PATTERSON:
Sr. Presidente, acabo de receber a triste notícia do falecimento do Dr. Adroaldo Mesquita da Costa, uma das mais eminentes figuras do mundo jurídico contemporâneo.
Não bastasse essa circunstância para justificar o registro do infausto acontecimento em sessão deste egrégio Plenário, seria do meu dever proferir algumas palavras de profundo sentimento, pela grande amizade que lhe dedicava, pelo respeito e admiração devotados em longos anos de convívio diário na Consultoria-Geral da República, onde tive a honra de ser seu assessor.
A par das melhores e mais proveitosas lições de Direito que recebi do mestre, durante aquele período, devo confessar que dele também tive os mais puros ensinamentos de vida. Aprendi não apenas a admirar e respeitar o professor, o jurista, o político, o homem público, mas, sobretudo, o inconfundível ser humano, dotado de excelsas virtudes, onde pontificava a bondade, o sentimento de justiça, de amor ao próximo, de solidariedade, principalmente nas ocasiões mais aflitivas daqueles que lhe eram caros e até mesmo estranhos que o procuravam para pedir auxílio.
Devo esclarecer que jamais o tive como um chefe, um superior hierárquico, nos exatos termos dessas expressões administrativas. Para mim sempre o considerei um amigo, um conselheiro, um verdadeiro pai. O tratamento que me dispensava e a toda minha família não permitia que lhe devotássemos outro tipo de afeição.
Coletânea de Julgados e Momentos Jurídicos dos Magistrados no TFR e STJ
Nascido na cidade de Taquari, Estado do Rio Grande do Sul, projetou-se nas letras jurídicas e galgou os postos mais altos da República. Além de sua extensa e rica bibliografia, cabe-me citar, apenas, algumas das mais relevantes funções que exerceu:
Professor universitário; Membro do Conselho da Ordem dos Advogados do Brasil; Deputado Federal à Constituinte de 1933; Deputado Estadual à Constituinte de 1935, no Rio Grande do Sul; Deputado Federal; Ministro da Justiça; 2º Vice-Presidente da Câmara dos Deputados; integrou a representação brasileira à Conferência Interparlamentar de Berna; Vereador em Taquari; Secretário da Educação e Cultura do Rio Grande do Sul; integrou a delegação do Brasil à XV Sessão da Assembléia-Geral das Nações Unidas; Membro do Conselho Diretor da Fundação Universidade de Brasília e Consultor-Geral da República.
Tenho certeza de que a nobreza de seu caráter, a bondade de seus sentimentos e as firmes convicções religiosas sempre foram abençoadas pelo Senhor, aliviando-o de sofrimentos físicos ou dívidas espirituais. Corroboram tal conceito as palavras de sua filha, a religiosa irmã Carmen Leite Costa, que, em janeiro deste ano, ao responder-nos, em nome do pai, mensagem de Natal, acrescentou:
Sua saúde declina gradativamente e sua permanência no leito, sem sofrimento físico aparente, assegurando-lhe um clima de antevisão da eternidade.
Desde que adoeceu sempre disse que ia se preparar para a morte e que um dia saberíamos o porquê desta longa espera.
Só um justo, um bom, um agraciado dos céus poderia merecer um preparo para a vida eterna tão sereno, tão tranqüilo. E o saudoso e querido amigo possuía essas e tantas outras qualidades.
Senhor Presidente, solicito a V. Exa. que faça registrar na ata dos trabalhos da sessão essa minha singela homenagem ao ilustre falecido, comunicando-a à família enlutada.
* 39ª Sessão Ordinária. TFR. 12/12/1985.