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Adroaldo Mesquita da Costa

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Apresentação

Adroaldo Mesquita da Costa nasceu na cidade de Taquari, Rio Grande do Sul, em 9 de julho de 1894. Filho legítimo do Tenente Coronel Antônio Porfírio da Costa, influente comerciante da região, e de Alzira Serzedello da Rocha Mesquita. Aos treze anos ingressou no Ginásio Nossa Senhora da Conceição, em São Leopoldo, onde se formaria com honras em 1911, e traçaria contatos que marcariam sua vida e sua formação.
 
Será com seus professores jesuítas que Adroaldo tomará conhecimento das letras clássicas, da história, e principalmente da religião. Já trazia o catolicismo de família, mas é inegável que o fervor que o acompanhará durante toda a vida foi moldado nos bancos escolares (Costa, 1937). Em 1908, no terceiro ano do Ginásio, fundará uma Congregação Mariana, um instrumento tradicionalmente utilizado pelos jesuítas para reforço dos ideais católicos já apresentados em todo o ambiente escolar.
 
 As Congregações (Adroaldo fundaria outra em 1911, no Ginásio Anchieta) serviam de um “espaço de cooptação das elites sociais e econômicas para o projeto de restauração católica” (Monteiro, 2011:107; Isaia, 1998:118). Não é à toa que muitos autores usaram o termo “geração católica” (Trindade, 1982; Grijó, 2012) para designar os estudantes egressos dos ginásios jesuítas que ingressaram na Faculdade Livre de Direito de Porto Alegre no final da década de 1910: a grande maioria desses, incluso Adroaldo Costa, vinha de um mesmo manancial comum e traziam os mesmos imbricamentos entre as “esferas politico-jurídica/acadêmica e religiosa” (Engelmann, 2001:129).
 
Toda a atuação profissional, política e social de Adroaldo, a partir de 1911, será profundamente marcada pelos ideais religiosos, morais e filosóficos aprendidos com os padres jesuítas. Pode-se dizer que suas “relações sociais [...] estabelecidas dentro dos meios católicos eram diretamente acionadas e reconvertidas em capital político” (Engelmann, 2011:129). Usará desse capital político e influência para barrar “a introdução do divórcio na Constituição” em 1934 (Balém, 1952:144-146). Será justamente na Assembleia de 1934 que declarará que ao serviço da Igreja Católica colocou “todas as luzes de minha inteligência, todo o sadio entusiasmo da minha alma de moço e a dedicação integral e completa de que é capaz um filho, na defesa da honra e dignidade de sua mãe ultrajada, porquê, e quero proclamá-lo do alto desta tribuna, eu sou filho espiritual da Igreja Católica, Apostólica, Romana”. (apud Annaes, 1935:187).
 
Foi Promotor Público em Porto Alegre (1919); Procurador da República no RS (1927/1928); Conselheiro Consultivo do Estado no RS (1931); Deputado Federal à Assembleia Nacional Constituinte (1933/1934); Deputado Estadual à Assembleia Constituinte do RS (1935/1937); Conselheiro Administrativo do Estado no RS (1944); Deputado Federal à Assembleia Nacional Constituinte (1946), durante a qual também exerceu o posto de Ministro da Justiça e Negócios Interiores (1947/1950); Deputado Federal (1951/1956); Vereador em Taquari (1958/1959); Secretário de Educação do RS (1958-59); Consultor Geral da República (1964/1969); Consultor Jurídico da UFRGS (1970/1971), entre outras ocupações. Ver outros perfis biográficos na aba “Documentos”, no menu à esquerda no site, para outras informações.
 
Adroaldo foi o responsável pela preservação dos mais de 2.000 documentos que compõem o acervo presente neste site. Com uma abrangência de c. 1860 até c. 1960, é composto majoritariamente por cartas de teor familiar, recebidas por ele próprio e por seu pai, Antônio Porfírio da Costa (1850-1913). Constituem um acervo valioso, justamente pelo seu caráter íntimo: permitem ao pesquisador, ao familiar, ou ao curioso vislumbrar cenas cotidianas que escapam ao escopo dos arquivos históricos tradicionais, focados nos documentos governamentais ou institucionais.
 
Dentre as várias tipologias de documentos aqui existentes, são as cartas familiares enviadas durante o século XIX que constituem a raridade do acervo. Apesar da entrega domiciliar de correspondência no Brasil existir desde 1835, e do primeiro selo brasileiro ter sido criado em 1845, as correspondências deste acervo raramente se utilizaram de um ou outro recurso. Localizados em regiões periféricas à Capital - como as vilas de Taquari, Mostardas, Estreito, Margem - os familiares de Antônio Porfírio e Adroaldo se valeram ou dos estafetas – agentes de serviço postal remunerados pelos governos locais – ou, principalmente, dos “portadores seguros”: outros parentes, amigos e conhecidos confiáveis que, em trânsito pelo território, levavam encomendas sigilosas, delicadas, ou valiosas entre as partes. Em síntese, grande maioria das missivas existentes neste acervo passaram ao largo dos meios oficiais de entrega de cartas. Não são epístolas-padrão: em uma época e em localidades nas quais o papel, o envelope e a tinta eram caros ou escassos, e aonde o correio não chegava, o que se vê aqui são correspondências escritas “às pressas” para aproveitar o portador, no papel que havia, muitas vezes reutilizando-se do verso de cartas anteriores. O trunfo do acervo preservado por Adroaldo está em mostrar um cotidiano que estaria invisível sem a preservação dessas fontes.
 
Embora esteja claro que foi Antônio Porfírio quem começou a organizar este acervo documental, é a Adroaldo que se deve a decisão de preservá-los para a posteridade. Qual teria sido a sua intenção ao guardar praticamente tudo recebido por seu pai, incluindo receitas médicas, recibos de compras, cartões de visitas, cartas danificadas e ilegíveis, envelopes vazios, e outras coisas que qualquer outra pessoa jogaria fora? Creio que devemos olhar para tal atitude de salvaguarda utilizando-se das lentes com que Adroaldo olhou para todas as facetas de sua vida. Os fins políticos de sua vida, alicerçados na fé católica e no nacionalismo, eram a defesa da família tradicional e da pátria, lados inseparáveis da mesma moeda: “Se a ideia que ela [a Pátria] encarna nos fascina e arrebata, é porque, no fundo de nossas almas, ela se apresenta como ‘a família amplificada’. É a família divinamente constituída, tem por elementos orgânicos a honra, a disciplina, a fidelidade, a benquerença, o sacrifício. Multiplicai a família e tereis a pátria” (Costa, 1937:322, grifo meu). Defender os legados históricos e morais, estudar e propagar os exemplos e os feitos dos heróis de antanho, para com esse exemplo seguir moldando as gerações futuras no caminho que julgava correto. Ao preservar para sua descendência os “monumentos” produzidos por sua gente simples de Taquari e Mostardas, creio que Adroaldo estava fazendo em casa o que fazia na vida política, garantindo que sua gente conhecesse os seus, para usar suas próprias palavras.
 
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Este site foi elaborado de forma a ser bastante intuitivo. À esquerda existe um menu principal, de onde destaco os itens Pesquisar, e Personagens: o primeiro remete aos campos de busca, enquanto o segundo traz resumos biográficos das principais personagens citadas nos documentos, sejam autores, destinatários ou instituições. Quando possível, são indicadas bibliografias complementares a cada um.
 
Indo ao item Pesquisar, o leitor tem diversas possibilidades de busca: pode buscar por palavras-chave ou por quaisquer termos no primeiro campo de busca, no topo da página; pode selecionar por tipologia de documento (cartas, ofícios, recibos, telegramas, etc.); pode buscar por produtor (escolheu-se o termo produtor ao invés de autor pois diversas vezes as missivas foram enviadas por instituições ao invés de pessoas), destinatário, local de produção ou data de produção. Em alguns casos o local ou a data não foram informados, e nesses buscou-se suprir essas lacunas com base em outros documentos. Quando não foi possível, o campo foi deixado em branco.
 
Buscando, por exemplo, por todos os documentos produzidos pela avó paterna de Adroaldo, Cecília Maria de Jesus, colocando-se o nome desta no campo Produtor, o leitor é remetido para a página de resultados, que traz uma lista das cartas escritas por esta senhora, em ordem cronológica das mais antigas para as mais recentes. Selecionando-se uma delas, abre-se outra página, a do documento. Nela há três campos distintos: um primeiro, o cabeçalho, traz as informações básicas do documento: seu código de localização dentro do acervo físico (por exemplo, p4d35); produtor; destinatário; data; local; e pelo contexto, que pode ser tanto um resumo das informações contidas na carta ou, quando possível, uma explicação mais abrangente, remetendo a eventos externos aos apresentados pelo produtor, com indicação de dados, fatos, e bibliografias que ajudem o leitor a entender porque aquela carta foi escrita. Quando possível, é indicado o código de outros documentos existentes no acervo que complementam as informações.
 
Logo abaixo deste cabeçalho há o campo da transcrição e da modernização. No primeiro é apresentado o texto integral existente no documento, com a grafia de época, as abreviações expandidas, e os erros gramaticais e de concordância existentes no original. Buscou-se sempre que possível manter-se o mais fiel ao documento possível. Para maior facilidade de leitura, apresentamos a possibilidade de leitura de uma versão modernizada do texto, acessível com um clique na aba Modernização: assim é possível ler-se o mesmo texto em sua versão atualizada, com grafia moderna, e erros corrigidos. O último campo, à direita do cabeçalho, é uma versão digital fotografada do documento. Clicando-se sobre a imagem, a mesma abre-se em nova aba. É possível aumentar-se o zoom clicando-se com o botão direito do mouse sobre a foto, e selecionando-se “Abrir imagem em nova guia”.
 
No menu à esquerda existe também o campo Documentos, no qual serão inseridos continuamente produções externas ao Acervo, mas relacionadas com este, sejam textos de Adroaldo publicados em diversos veículos, sejam textos de outros autores a respeito do próprio, de membros da família Costa, ou de Taquari.
 
O site do Acervo Adroaldo Mesquita da Costa não é um trabalho concluído. A intenção da Família Araújo Costa, mantenedora do acervo, é ir alimentando-o sempre que possível com novos materiais e informações. Todos aqueles que tiverem sugestões, comentários, críticas e indicações de correções são convidados a fazê-las a partir do item Contato, presente no menu à esquerda. Agradecendo desde já o apoio a esta tão valiosa iniciativa, desejo boa leitura.
 
Pedro von Mengden Meirelles.
 
ANNAES da Assemblea Nacional Constituinte. Volume 7. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1935.
 
BALÉM, João Maria, Monsenhor. A Paróquia de S. José de Taquari no bicentenário da colonização açoriana no Rio Grande do Sul (1752-1952). Porto Alegre: A Nação, s/d [1952], p. 144-146.
 
COSTA, Adroaldo Mesquita da. Saudação do dr. Adroaldo Mesquita da Costa ao R. P. Luiz Gonzaga Jaeger, S.J., ao ser este recebido no Instituto. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, ano 17, 4º trimestre, p. 321-329, 1937.
 
ENGELMANN, Fabiano. Entre o “positivismo” e o “catolicismo”: As dimensões do espaço jurídico no Rio Grande do Sul. Revista da Faculdade de Direito da UFRGS. Porto Alegre, v. 20, p. 121-136, out./2011.
 
GRIJÓ, Luiz Alberto. Os soldados de Deus: religião e política na Faculdade de Direito de Porto Alegre na primeira metade do século XX. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 32, n. 64, p. 279-298, 2012.
 
ISAIA, Artur Cesar. Catolicismo e autoritarismo no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: EdiPUCRS, 1998.
 
MONTEIRO, Lorena Madruga. Considerações sobre a atuação da Companhia de Jesus na formação dos grupos dirigentes no Rio Grande do Sul. História Unisinos. São Leopoldo, v. 15, n. 1, p. 100-111, jan./abr. 2011.
 
TRINDADE, Fernando. Uma contribuição à história da Faculdade de Filosofia da UFRGS. Revista do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Porto Alegre, v. 10, p. 39-53, 1982.

Ficha Técnica

Produção: Família Costa.

Guarda do acervo: Família Araújo Costa.

Transcrição, modernização e revisão dos textos: Pedro von Mengden Meirelles.

Pesquisa: Pedro von Mengden Meirelles.

Digitalização dos documentos: Pedro von Mengden Meirelles.

Tradução do alemão: Annemarie Frank.

Aconselhamento técnico: Catherine da Silva Cunha (LACOR-UFRGS); Elizabeth Maria Brochier dos Santos (B&C Acervos).

Concepção e programação da página web: Letícia Bender Noschang, Ework Sistemas.