ROSA, Ruben Machado da. Alocução proferida perante o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro pelo Ministro Ruben Machado da Rosa. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, v. 124, p. 169-170, 1986.
Alocução proferida perante o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro pelo Ministro Ruben Machado da Rosa.
Rubens Machado da Rosa
Adroaldo Mesquita da Costa nasceu em São José de Taquari a 9 de julho de 1894, lá falecendo a 12 de dezembro de 1985. Explevit tempora multa, o Salmista assevera que só os mais fortes completam oitenta anos (80,10). Ele mesmo escreveu (8-12-75): “atingi e cheguei aonde jamais supus me haveria de ser dado chegar”.
Depois de alfabetizado frequentou o Externato Santana e a seguir, completou o curso primário no Colégio Distrital, todos em Taquari. O secundário fê-lo em São Leopoldo, como interno do famoso Ginásio Nossa Senhora da Conceição, mantido pelos Padres Jesuítas. Aluno aplicado alcançou sempre as melhores notas. Em 1913 matriculou-se na Faculdade Livre de Direito de Porto Alegre, onde concluiu com láurea o curso de ciências jurídicas e sociais em 1917. Como naquele Estado vigorasse o regime de liberdade de ensino e profissão, desde 1915 começou a advogar, estreando no tribunal do júri na sua cidade natal. Seu escritório tornou-se com o andar do tempo um dos mais procurados. Não é por menos a quem obtivera distinção em todas as matérias do curso jurídico. Seu retrato figura na sala do “Panteão Acadêmico” da Faculdade citada. Advogou até 1984 e tinha na OAB regional o nº 9 de inscrição.
Serviu à causa pública em variados cargos: procurador da República, integrou o Conselho Administrativo daquele Estado. Elegeu-se deputado estadual (1935), federal (1946 a 1955). Foi constituinte 1933-34 e não aceitando a prorrogação do mandato, renunciou. Fez parte também da constituinte sul-rio-grandense. Na Presidência Dutra ocupou a pasta da Justiça e Negócios Interiores. Coube-lhe, então, fazer a alocução no Palácio do Catete após a sanção da Lei nº 781, de 17-8-49, que institui o Dia Nacional de Ação de Graça. Foi Secretário estadual da Educação. Quando no exercício da Vereança em Taquari (1958-59) propôs, e foi aprovado, a gratuidade do mandato dos vereadores. Contou-me como foi escolhido como Consultor Geral da República (1964-1969). Seu nome foi o mais indicado pelas OAB regionais. Proferiu 1200 pareceres distribuídos em vários volumes. Organizou o quadro de seus funcionários. Pôs em dia a publicação dos pareceres de todos quantos já tinham exercido o referido órgão, inclusive um precioso índice. A Universidade Federal do seu Estado natal teve-o também seu consultor jurídico (1970-71), quando lavrou mais de uma centena de pareceres, reunidos em volume.
No Ensino Universitário exerceu a cátedra de Direito Comercial. Publicou A Cambial de parceria com Nei Wiedman; Falência, Navio, etc. Inúmeros foram os folhetos contendo memórias e arrazoados forenses perante as justiças estadual e federal; ocupou a tribuna de tribunais de outros Estados, inclusive as do Supremo Tribunal Federal de Recursos, e Superior do Trabalho.
Recebeu os maiores galardões das associações culturais e de classe, medalhas comemorativas, condecorações nacionais e estrangeiras. A Santa Sé conferiu-lhe a Pro Eclesia et Pontifice; Grã-Cruz da Ordem de S. Silvestre, cavaleiro da Ordem Equestre de Jerusalém. Por rescritos de 3-IV-30 e 7-IV54, tinha o privilégio de Capela Doméstica e o de conservar nela o Santíssimo Sacramento do Altar. Membro Honorário da Academia Brasileira de Letras Jurídicas (1979).
Vi-o em 1920 como titular na instalação a 5 de agosto do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, do qual foi Presidente Perpétuo desde muitos anos. Na sua Revista encontram-se várias colaborações, inclusive capítulos da tradução da clássica “Viagem ao Rio Grande do Sul” de Auguste Saint-Hilaire (Paris, 1880), a sair proximamente, na seleta coleção ERUS da Cia. Rio-Grandense de Seguros. O nosso IHGB recebeu-o como sócio honorário (e depois correspondente) em 1948, sendo que o parecer da Comissão própria assevera “possuir credenciais sobejas demonstradas pelos trabalhos de historiografia sul-rio-grandense”. Em 1951, proferiu neste egrégio Sodalício densa conferência sobre o 1º Bispo gaúcho D. Feliciano José Rodrigues Prates (1784-1850). Nessa ocasião decifrou o epitáfio aposto na lápide tumular na Catedral Metropolitana de Porto Alegre, demonstrando, na espécie, o significado da expressão romana ‘dies idus’, Ver. 212/80. Havia dúvidas quanto à data do nascimento. Os Institutos Históricos do Rio Grande do Norte e do Ceará tiveram-no em seu quadro como sócio correspondente.
Líder incontestado do laicato católico sulino, atuou em Congressos Eucarísticos Nacionais e no Internacional do Ano Santo em Fátima (1950), sendo o orador na sessão de encerramento. Chefe exemplar de numerosa família, teve a fortuna de ter três filhas religiosas. Toda sua vida usou na lapela do termo o emblema de congregado mariano.
Espírito comunicativo e conciliador, escrevia com fluência, inclusive em francês como ao saudar o cientista George Dumas a 17-12-1917 na Faculdade de Direito, em nome da juventude rio-grandense. Em “Recordando”, durante anos, na 4º página do Correio do Povo (1895) abordou fatos, cousas, homens de seu tempo. Muitos deles estão reunidos em plaquetas.
Bom amigo, exemplar em tudo, curtiu com resignação longo sofrimento. Deus prova os que mais ama. A dor é a lembrança eterna da crucificação de Cristo por nosso amor e redenção (Salvifica doloris, João Paulo II, fev. 1985). Mas a vida não é arrebatada, somente mudada e, desfeita esta morada terrestre, adquirem os fiéis uma eterna mansão nos céus (Pref. da Missa Pro Defunctis). Bem-aventurados os pacificadores porque eles serão chamados os filhos de Deus – Mt 5,9.